Uma tempestade perfeita se arma sobre os setores mais dinâmicos da economia nacional, capturada no vórtice da incapacidade para inovar. À tradicional dependência de tecnologia estrangeira se soma agora a forte freada na produção, que suspende ou adia muitos planos de investimento.

Como a verdade na guerra, as primeiras vítimas da recessão são as atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Porém, o país só gerará os melhores produtos e empregos para competir no mercado internacional se conseguir modernizar sua indústria, o que nos dias de hoje implica muito mais que apenas importar máquinas novas.

O diagnóstico é tão antigo quanto exasperante: empresas brasileiras aplicam pouco em inovação. Há razões históricas para isso, como longos períodos de reserva de mercado, que anulavam o incentivo para aperfeiçoar produtos imunes à competição internacional.

As estatísticas de investimento em P&D ainda refletem essa deficiência: no Brasil, somente 1,21% do PIB, contra 1,98% na China e 4,30% na Coreia do Sul. Pior ainda, menos da metade (44%) dessas inversões em geração de tecnologia se realiza aqui por meio de empresas privadas, com o restante na conta de instituições estatais; nos concorrentes asiáticos, essa proporção é de 75%.

Ciente dessa situação, o governo federal tenta há anos remediar o problema, prodigalizando programas e linhas de financiamento com escasso resultado. Com a retração da economia, nem o Estado nem a iniciativa privada podem mais contar com novos recursos para apoiar a inovação.

Além disso, a alta nos juros desincentiva a inversão em projetos de risco e longa maturação, como é a regra na geração de tecnologia. Para complicar, a importação de maquinário se encarece com a recente perda de valor do real.

O país, entretanto, não tem alternativa senão inovar. Por difícil que seja, é decisivo utilizar bem, e logo, os instrumentos que restam. O primeiro e mais óbvio é levantar as barreiras e dificuldades desnecessárias, como a burocracia.

Para dar um exemplo: no Brasil consomem-se 10,8 anos para obter uma patente, contra 2,6 nos EUA. Outro: a criação da Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) veio encurtar os prazos de financiamento para acordos de cooperação entre empresas e centros de pesquisa, mas precisa ganhar escala mais rápido e mobilizar logo os quase R$ 400 milhões anuais à disposição.

Há que reforçar, por fim, a atuação do BNDES. Afinal, seu apoio às pesquisas do Centro de Tecnologia Canavieira para melhorar a produtividade do setor de álcool trará provavelmente benefícios maiores para o país do que a duvidosa política de empréstimos subsidiados para criar “campeões nacionais”.

Esta foi a íntegra do editorial publicado na edição de 16/06/2015 no jornal Folha de São Paulo

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